No artigo anterior, ao
versarmos sobre ontologia (ciência do ser-enquanto-ser), constatamos que
podemos “pensar” o Ser, quanto a possibilidade de “dizer” sobre o Ser, a
linguagem nos impõe limites.
Os pensadores acima, legítimos representantes das “luzes”, do
Iluminismo, são responsáveis por algumas das idéias mais revolucionárias
e polêmicas acerca da natureza social, metafísica e fisiológica do
homem.
O evolucionista Charles Darwin (1809-1882), em sua famosa obra “A origem
das espécies”, discorre sobre a teoria da evolução dos seres vivos
mediante a seleção natural. Darwin prova por a + b que descendemos dos
primatas. Convém salientar que esse eminente britânico, embora afirmasse
que religião nada mais é que “estratégia tribal de sobrevivência”,
acreditava que Deus era o legislador supremo.
O filólogo e filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900) bebendo nas
fontes gregas em “O nascimento da tragédia”, no culto ao orgiástico e
desmedido Dionisíaco, em contraponto à ordem e harmonia Apolínea,
identificou tensões de forças ocultas expressas na tragédia grega,
especialmente nas dos pioneiros, Sófocles e Ésquilo. Considera Homero,
insuperável. Também estudou o antiqüíssimo Zoroastrismo, religião que
professa que seu “deus” Ahura-mazda abarca o bem e o mal em si mesmo.
Para Nietzsche, o que há é a natureza, em sua potência energética: Apolo
(ordem) em contraponto a Dioniso (caos). Uma espécie de cega, pujante e
indestrutível “vontade de potência”, sempre em luta, em alternância. Um
não existe sem o outro; na verdade, cada uma dessas potências (luz e
escuridão), só se revela, através da outra. Nietzsche dirá que, a
natureza tem seus desígnios, e a piedade não é um deles. A religião,
especialmente “a do crucificado”, é a responsável por insistir na
cultura dos fracos, operando uma transvaloração (inversão) dos valores
tais como os dos escravos que valoram a coragem como sendo um mal. Eis
que o cristão afirma: nós, os escravos, somos vítimas, somos bonzinhos;
eles, os senhores, os afirmativos, são malvados, opressores, não
prestam. A submissão foi transformada numa virtude chamada obediência.
Disso resultará o grupo dos ressentidos. E todo ressentido torna-se
venenoso.
Já o médico austríaco Sigmund Freud (1856-1939), considerado o “Pai” da
psicanálise, disciplina que intenta mapear “geneticamente” a psique
humana, revelou-nos o inconsciente e suas motivações; Também recorreu
aos mitos e tragediógrafos gregos e, eis outro misterioso enlace
matrimonial: as pulsões de Eros e Tânatos (pulsões de libido e de
morte), ação e repouso, vida e destruição, sempre em conjunto. Freud
afirma que o sentimento religioso de um vínculo indissolúvel, de algo
ilimitado, sem fronteiras, essa sensação de eternidade, algo oceânico,
por assim dizer, não passa de uma ilusão.
Para ele, todo nosso histórico biológico, encontra-se preservado em
nossa vida mental, psíquica. Tal sentimento pode ser identificado
acompanhando o feto no interior do útero, onde se encontra no verdadeiro
paraíso, com todas as necessidades satisfeitas, em prazer imperturbável
e absoluto. Dessa “memória” biológica (registrada em nosso inconsciente)
deriva nossa sensação de plenitude, para onde sempre desejaremos
regressar: “cada um de nós se comporta, sob determinado aspecto, como um
paranóico, corrige algum aspecto do mundo que lhe é insuportável [os
infortúnios, acasos do destino, a finitude, por exemplo] pela elaboração
de um desejo e introduz esse delírio na realidade. Concede-se especial
importância ao caso em que a tentativa de obter uma certeza de
felicidade e uma proteção contra o sofrimento através de um
remodelamento delirante da realidade é efetuada em comum por um
considerável número de pessoas. As religiões da humanidade devem ser
classificadas entre os delírios de massa desse tipo”. E acrescenta: “É
desnecessário dizer que todo aquele que partilha um delírio jamais o
reconhece como tal” (O Mal-Estar na Civilização).
Darwin, Marx, Nietzsche e Freud são os responsáveis pelo que a academia
aponta como sendo “a morte de Deus”. Obviamente, alguns empresários de
Deus e instituições religiosas sentiram-se atingidas por suas
surpreendentes e perturbadoras descobertas.
Lenda de Adão e Eva, teoria do Big Bang ou quaisquer outras explicações,
nada disso abala o homem de fé. Para transcendermos, “acessarmos” o
inefável e sublime do Ser, cuja essência sempre escapa ao conceito e à
razão, nada como a contemplação da vida, a natureza, a arte e, dentre as
expressões artísticas (pinturas, esculturas, arquitetura, literatura, etc), a música é insuperável: arrebata e enleva instantaneamente. O
genial Ludwig van Beethoven (1770-1827) imortalizou-se com apenas quatro
notas musicais! Ciência, arte e amor, suprema religião: onde os deuses e
os homens se encontram.
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