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Darwin, Nietzsche e Freud – Deus está morto?

Luciene Félix
Professora de Filosofia e Mitologia Greco-Romana da ESDC
mitologia@esdc.com.br

“Aquele que tem ciência e arte, tem também religião:
o que não tem nenhuma delas, que tenha religião”. Goethe

 

No artigo anterior, ao versarmos sobre ontologia (ciência do ser-enquanto-ser), constatamos que podemos “pensar” o Ser, quanto a possibilidade de “dizer” sobre o Ser, a linguagem nos impõe limites.

Os pensadores acima, legítimos representantes das “luzes”, do Iluminismo, são responsáveis por algumas das idéias mais revolucionárias e polêmicas acerca da natureza social, metafísica e fisiológica do homem.

O evolucionista Charles Darwin (1809-1882), em sua famosa obra “A origem das espécies”, discorre sobre a teoria da evolução dos seres vivos mediante a seleção natural. Darwin prova por a + b que descendemos dos primatas. Convém salientar que esse eminente britânico, embora afirmasse que religião nada mais é que “estratégia tribal de sobrevivência”, acreditava que Deus era o legislador supremo.

O filólogo e filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900) bebendo nas fontes gregas em “O nascimento da tragédia”, no culto ao orgiástico e desmedido Dionisíaco, em contraponto à ordem e harmonia Apolínea, identificou tensões de forças ocultas expressas na tragédia grega, especialmente nas dos pioneiros, Sófocles e Ésquilo. Considera Homero, insuperável. Também estudou o antiqüíssimo Zoroastrismo, religião que professa que seu “deus” Ahura-mazda abarca o bem e o mal em si mesmo.

Para Nietzsche, o que há é a natureza, em sua potência energética: Apolo (ordem) em contraponto a Dioniso (caos). Uma espécie de cega, pujante e indestrutível “vontade de potência”, sempre em luta, em alternância. Um não existe sem o outro; na verdade, cada uma dessas potências (luz e escuridão), só se revela, através da outra. Nietzsche dirá que, a natureza tem seus desígnios, e a piedade não é um deles. A religião, especialmente “a do crucificado”, é a responsável por insistir na cultura dos fracos, operando uma transvaloração (inversão) dos valores tais como os dos escravos que valoram a coragem como sendo um mal. Eis que o cristão afirma: nós, os escravos, somos vítimas, somos bonzinhos; eles, os senhores, os afirmativos, são malvados, opressores, não prestam. A submissão foi transformada numa virtude chamada obediência. Disso resultará o grupo dos ressentidos. E todo ressentido torna-se venenoso.

Já o médico austríaco Sigmund Freud (1856-1939), considerado o “Pai” da psicanálise, disciplina que intenta mapear “geneticamente” a psique humana, revelou-nos o inconsciente e suas motivações; Também recorreu aos mitos e tragediógrafos gregos e, eis outro misterioso enlace matrimonial: as pulsões de Eros e Tânatos (pulsões de libido e de morte), ação e repouso, vida e destruição, sempre em conjunto. Freud afirma que o sentimento religioso de um vínculo indissolúvel, de algo ilimitado, sem fronteiras, essa sensação de eternidade, algo oceânico, por assim dizer, não passa de uma ilusão.

Para ele, todo nosso histórico biológico, encontra-se preservado em nossa vida mental, psíquica. Tal sentimento pode ser identificado acompanhando o feto no interior do útero, onde se encontra no verdadeiro paraíso, com todas as necessidades satisfeitas, em prazer imperturbável e absoluto. Dessa “memória” biológica (registrada em nosso inconsciente) deriva nossa sensação de plenitude, para onde sempre desejaremos regressar: “cada um de nós se comporta, sob determinado aspecto, como um paranóico, corrige algum aspecto do mundo que lhe é insuportável [os infortúnios, acasos do destino, a finitude, por exemplo] pela elaboração de um desejo e introduz esse delírio na realidade. Concede-se especial importância ao caso em que a tentativa de obter uma certeza de felicidade e uma proteção contra o sofrimento através de um remodelamento delirante da realidade é efetuada em comum por um considerável número de pessoas. As religiões da humanidade devem ser classificadas entre os delírios de massa desse tipo”. E acrescenta: “É desnecessário dizer que todo aquele que partilha um delírio jamais o reconhece como tal” (O Mal-Estar na Civilização).

Darwin, Marx, Nietzsche e Freud são os responsáveis pelo que a academia aponta como sendo “a morte de Deus”. Obviamente, alguns empresários de Deus e instituições religiosas sentiram-se atingidas por suas surpreendentes e perturbadoras descobertas.

Lenda de Adão e Eva, teoria do Big Bang ou quaisquer outras explicações, nada disso abala o homem de fé. Para transcendermos, “acessarmos” o inefável e sublime do Ser, cuja essência sempre escapa ao conceito e à razão, nada como a contemplação da vida, a natureza, a arte e, dentre as expressões artísticas (pinturas, esculturas, arquitetura, literatura, etc), a música é insuperável: arrebata e enleva instantaneamente. O genial Ludwig van Beethoven (1770-1827) imortalizou-se com apenas quatro notas musicais! Ciência, arte e amor, suprema religião: onde os deuses e os homens se encontram.
 

Saiba mais:

Ouçam o imortal Beethoven, sob a batuta do inesquecível Maestro Herbert Von Karajan.
Karajan – Beethoven Symphony No. 5 Part 1
http://www.youtube.com/watch?v=zhcR1ZS2hVo
 

Escola Superior de Direito Constitucional - ESDC
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